Estava escrito nas estrelas: nasci no Dia Internacional da Fotografia (19/08) e desde muito pequeno estive em contato com ela, ainda que de forma contida. Naquela época fotografar era uma atividade bastante cara e meu pai, que usava uma Voigtländer e gostava de carregá-la com diapositivos, não abusava. Por outro lado, minha mãe usava uma Olympus Pen que cortava os custos pela metade - aquela câmera produzia negativos da metade do tamanho regular, o que significava dizer que um filme de “24 poses” resultava em 48 ou 49 fotografias. Logo cedo fui presenteado com uma câmera do tipo “xereta” que utilizava filmes em cartucho e possuía flash embutido. Uau!

Foi assim que despertei para a arte da escrita com a luz (o real significado do termo “fotografia”), me interessando cada vez mais pelo assunto. Livros, fascículos, revistas e todo o pouco mais que havia disponível era consumido com avidez. Nessa época apareceu um anjo em minha vida que me presenteou a primeira câmera “de verdade” (uma SLR): a feiosa mas super resistente alemã-oriental Praktica MTL-5, que tinha lentes Schneider-Kreuznar. Ela veio num bolsa de couro rígido com mais duas objetivas, uma de 135mm e outra de 28mm, além de teleconversores. Nunca mais vi esse colega de trabalho de minha mãe, um holandês fissurado em quebra-cabeças.

No início da década de 80 - do século passado! me inebriei com os fétidos aromas do laboratório de revelação em preto e branco e passava valiosas e divertidas horas ali enfurnado, depois da escola. Assistir e interferir no processo do surgimento da imagem é algo que todo fotógrafo deveria conhecer e experimentar. Em meados daquela década comecei a fazer meus primeiros trabalhos, fotografando ensaios e shows de bandas de rock de amigos mas logo depois entrei em um período de inatividade. Era prioritário tratar de minha subsistência e aquele hobby com tendência a trabalho estava ficando caro. Descobri tempos depois que o que faltou foi gerenciar e impulsionar a carreira de fotógrafo. Optei pela segurança de um contra-cheque de uma grande empresa de aviação. O limbo durou mais de uma década…

Foi a chegada de meu filho Arthur que me impulsionou a tirar a poeira das câmeras. A tecnologia digital já estava estabelecida e resolvi testá-la. Adquiri uma Nikon D200 e me maravilhei com a possibilidade de poder disparar o obturador sem pena de meu bolso. Sem falar que o “laboratório” agora não exalava mais o cheiro de ácido acético - ficava em meu Macintosh! Os dedos e o olhar enferrujados regozijaram-se diante das novas tecnologias e me apaixonei pela segunda vez por ela, a fotografia.

Dessa vez porém, percebi que a luz no fim do túnel era a mesma luz com que gostava tanto de escrever. Fui abandonando as outras atividades para me dedicar exclusivamente à fotografia. Fotografei um pouco de tudo: eventos políticos, passeios cicloturísticos, demonstração de Aikido, passeatas, flores, insetos, festas infantis ou dançantes, alunos de escolas, enfim… tinha luz eu clicava. E se não houvesse luz, eu sacava o flash!

Foi quando conheci uma
Chef de Cuisine que precisava de umas fotos que comecei a ligar duas paixões: a fotografia e a culinária. Minha realização, como a massa de um soufflé, começava a tomar forma. E crescer.

Hoje ainda faço a cobertura de um evento aqui outro ali, mas estudo e me especializo cada vez mais na fotografia de alimentos e acredito ter, finalmente, maturado os meus sonhos pois melhor do que alimentar uma paixão é alimentá-la com comida, somando duas paixões. Típico caso de “um mais um é mais que dois” como dizia aquela canção.